domingo, 15 de agosto de 2010

Canção de amizade


"Há amigos mais chegados que irmãos."
Provérbios 18:24

Para minha irmã, Haydée

Erigi em ti uma morada.  Deixei-a fazer-se sem muros para que, crescendo juntas, a distância fosse sempre muito próxima. Por fim, de braços abertos convidei-te para que em meus olhares pudesse ver amizade. Quis acolher-te com meus olhos pois é lá que, sorrindo, o amor mora. Os cabaleantes e receosos abraços destruíram aos poucos as últimas fronteiras.  Cantam meus braços amistosos, oferecendo pousada para amigos cansados que esqueceram a melodia magnífica de uma amizade verdadeira.
Moro em ti. Sua presença me permite estar sempre em casa e falo de tudo que sendo teu, torna-se meu na construção do terceiro pronome, muito usado por amigas como nós. Moramos uma na outra, e em um caminho encantado cantamos o estar sempre juntas, apesar da distância que impede que os olhos se encontrem. Fiz de ti um tipo de refúgio, sei que sou amada. E o amor que a amizade representa pode ser o símbolo de tudo em um segundo, o escudo, a tristeza, a alegria e o vazio. E a saudade teimosa não conhece seu lugar, assombra com frequência minha morada, onde pendurei teus retratos, nossos rostos. Esse eterno sentir falta visita-me diariamente enquanto vejo teus olhos congelados na fotografia sorridente. Não é uma ausência, mas tua presença que constantemente me leva de volta ao que escolhi nomear 'saudade'.
Choramos juntas frente à distancia e para tanto inventamos sorrindo a estrada. E caminhando neste rumo encantado vamos, viemos e voltamos, mas pousamos na mesma morada. A estrada nos leva até a outra. Chama-se amizade.
E para os encontros, reinventamos e resignificamos os abraços.